Retrofit – Reabilitação de edifícios antigos é a saída contra a desvalorização dos imóveis e a escassez de moradias nas cidades

READEQUAR PARA VALORIZAR

Olhe para a cidade com um olhar mais crítico, e você verá: São Paulo está envelhecendo. Ao lado dos novíssimos condomínios, com completas áreas comuns e apartamentos com sacadas e churrasqueiras, edifícios antigos perdem valorização e exigem atualizações de seus proprietários.

Para o arquiteto João Valente, sócio do Instituto de Engenharia, os prédios novos estão incorporando os desejos de habitação que atendem as necessidades da vida moderna, com espaços intercambiáveis.

Enquanto isso, o envelhecimento rápido das construções gera desvalorização do patrimônio e frustração dos moradores, que vivem em ambientes antiquados, com pouca maleabilidade. “Hoje, não basta o apartamento ter janela, é preciso ter visão.

A ideia do lazer também está incorporada aos apartamentos. A varanda e o loft, com arquitetura sem paredes, com painéis que abrem e fecham, incluem ou dividem, são algumas soluções para essas exigências. Diante disso, o retrofit é uma alternativa fantástica”, analisa Valente.

Mas o retrofit deve ser avaliado conforme os limites legais, estruturais, arquitetônicos e de tempo da construção, e pode ser radical ou parcial. “Retrofit é um conceito, com diversos graus de intervenção. É claro que uma obra radical, com o prédio todo habitado, é mais difícil de ser realizada. Recomendo que o síndico ouça os moradores, para que expressem suas aspirações e expectativas. Até mesmo a individualização de água, instalações adequadas de ar condicionado e para rede de computadores são consideradas retrofit”, afirma.

Para o engenheiro civil Luiz Henrique Ferreira, consultor da certificação AQUA para edifícios sustentáveis, instituída pela Fundação Vanzolini, uma edificação deve passar por um retrofit a partir do momento em que perde funcionalidade, está por alguma razão prejudicando o meio ambiente ou a saúde de seus usuários, ou deixa de atender a algum contexto regulamentar. “O termo retrofit vem do inglês e no Brasil é utilizado para grandes reabilitações de edifícios, abrangendo infraestrutura de instalações prediais, ar condicionado, fachada, quando possível, e ambientes internos. As reformas costumam ser mais localizadas”, difere.

Mas há quem renegue o termo em inglês e fale simplesmente em reforma. É o caso da arquiteta Alejandra Maria Devecchi, que em sua tese de doutorado – “Reformar não é construir/A reabilitação de edifícios verticais: novas formas de morar em São Paulo no século XXI” -, apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), defendeu a necessidade de reforma diante da escassez de moradia na cidade. “Falo em reforma, reabilitação, reconversão. Começar a olhar para o velho é o grande desafio deste século. Vivemos um paradoxo: no centro, temos uma grande densidade de área construída, mas pouca gente morando. Principalmente nos distritos Sé e República, os edifícios antigos se constituem em uma possibilidade de reforma para habitação.”

Alejandra questiona como intervir nesses edifícios, inclusive preservando as características da edificação. “Em uma troca de coluna, por exemplo, é melhor rejeitar a antiga e instalar uma nova por fora. A tendência é criar espaços com facilidades de conexões, seja na rede de água, esgoto, luz ou internet.” A arquiteta explica que o suporte de um edifício tem vida média superior a 200 anos. O recheio, ou infraestruturas que facilitam nosso dia a dia, tem um ciclo de vida variando entre 20 e 30 anos. Ela defende o uso de sistemas que facilitem ações de reparo e reforma. Alejandra cita tecnologias alternativas, como pisos elevados, como auxiliares na distribuição das tubulações, minimizando a necessidade de furos e intervenções na estrutura existente. “Há recheios e enxertos que não comprometem a estrutura do prédio. Vi na Holanda, por exemplo, sacadas de material plástico. São intervenções possíveis em edifícios tombados, deixando bem claro o que é novo e o que é a construção original.”

O engenheiro Luiz Henrique orienta fazer, inicialmente, um diagnóstico quando se pensa na reabilitação de uma construção, observando-se as necessidades e os recursos a serem empregados, para que atinjam os resultados esperados. “Devem ser considerados a adequação à lei, a finalidade do edifício após a reforma, impactos ambientais da obra e na ocupação futura e condições de conforto e saúde dos usuários”, finaliza.


Matéria publicada na edição 150 set/10 da Revista Direcional Condomínios

Não reproduza o conteúdo sem autorização do Grupo Direcional. Este site está protegido pela Lei de Direitos Autorais. (Lei 9610 de 19/02/1998), sua reprodução total ou parcial é proibida nos termos da Lei.

Autor

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

oito − cinco =