Individualização de Água e Gás nos Condomínios

MAIS ACESSÍVEIS, PROCESSOS SE CONSOLIDAM

O mercado da individualização da água em São Paulo surgiu há dez anos, ganhou impulso há cinco e agora prevê grande avanço, com a viabilidade do sistema em edificações de múltiplas prumadas. Já o consumo do gás natural canalizado ultrapassa os 700 mil usuários residenciais no Estado; para os condomínios, resta promover sua leitura individualizada.

Faz cerca de dez anos que o segmento condominial começou a ouvir falar em individualização de água, mas com certo descrédito. O processo parecia caro e trabalhoso e, de outro modo, os ganhos seriam diluídos no tempo, o que desestimulava muita gente a levar a bandeira adiante. O condomínio Residencial Guignard, na zona Leste da cidade, resolveu, entretanto, encarar o pioneirismo. “Em 2001 não era comum falar em individualização. Mas tínhamos uma conta de água gigantesca, eram cerca de R$ 8.500 mensais e quase 50% de inadimplentes”, afirma o síndico Maurício Jovino. Ele lembra que o Brasil vivia séria crise econômica e parte dos moradores dos sete blocos e 140 apartamentos do Residencial encontrava dificuldades para quitar os débitos.

O síndico relata também que poucos edifícios dispunham de individualização na cidade, assim, não havia muitos modelos no qual se basear. “Era uma situação crítica, mas as pessoas sabiam que precisávamos fazer alguma coisa, mesmo que a medida fosse drástica.” A mobilização dos condôminos começou em 2001, com reuniões de esclarecimento por bloco, e a individualização foi implantada em 2003. Com uma única prumada e parcelamento em até dez vezes oferecido pela empresa contratada para cada morador, foi possível concretizar o processo, que trouxe resultados imediatos. “No primeiro mês, com a leitura de cada hidrômetro, conseguimos identificar cerca de 30 vasos sanitários com vazamento. O consumo começou a baixar e, no terceiro mês, a conta caiu a 50%; no quarto, entre 55% e 60%”, afirma Jovino. A gestão do consumo é feita pela empresa de individualização, que cobra de cada unidade um valor correspondente à leitura do hidrômetro e à tabela progressiva da Sabesp. O síndico também individualizou a leitura do gás, a cargo da empresa que fornece os cilindros. Com uma história mais recente, o executivo aposentado Waldir Berger, administrador de empresas e síndico do Living Club Refuge, encarou a individualização em um contexto estruturalmente mais complexo. As quatro torres do condomínio de 400 apartamentos, dois anos e meio de vida, localizado na Vila Leopoldina, zona Oeste de São Paulo, possuem quatro prumadas, duas de água quente e duas de fria. Foi preciso instalar 1.600 medidores, trabalho que levou quatro meses. Mesmo que seja um projeto mais recente, desta década, a construtora não programou o Living Refuge para a individualização. “Se tivesse feito isso na construção, não levaria mais que um mês”, acredita Waldir.

Síndico há dois anos, o executivo aposentado diz que administrava um problema “desagradável” antes da individualização, concretizada em setembro do ano passado: “25% das unidades desperdiçavam água, mas as demais (75%) é que arcavam com o seu consumo”. Por isso não foi difícil aprovar o sistema, que consistiu na instalação de quatro hidrômetros por apartamento, a um custo de R$ 455,00 o aparelho, mas parcelados em 14 meses, em um rateio extra de R$ 130,00 para cada condômino. O síndico avalia que pelo menos a metade dos moradores teve um retorno imediato dos investimentos e que a conta única da Sabesp que chega ao condomínio está hoje 30% menor. O total é subdividido proporcionalmente ao consumo apurado nos quatro medidores das unidades.

Segundo o gerente comercial da empresa contratada pelo Living Refuge, Antônio Assis Salomão, é feita uma leitura remota, do lado de fora do condomínio, de cada um desses medidores, identificados por um número de série próprio. Sua instalação é simples, requer uma “incisão quase cirúrgica na parede onde fica o registro de água, por meio de um corte de 15 cm de largura por 28 de comprimento. “Escavo até deixar a tubulação visível, instalo o hidrômetro ali e posso recobri-lo com uma arandela de luz. O trabalho é limpo e leva em torno de 45 minutos”, assegura Antônio.

O diretor de condomínios do Secovi em São Paulo (Sindicato das Empresas de Compra e Venda Locação e Administração de Imóveis), Sérgio Meira de Castro Neto, acredita que a chegada da individualização a prédios com múltiplas prumadas poderá dar grande impulso ao mercado. “Há dez anos, quando o Liceu de Artes e Ofícios começou a oferecer os hidrômetros, dizíamos que era impossível individualizar. ”O grande avanço, segundo ele, foi tecnológico. Atualmente, é possível individualizar sem ter que centralizar todo o consumo em um único medidor, por outro lado, tornou-se desnecessário entrar nas unidades ou até mesmo na edificação para realizar a leitura. Outra vantagem é que os custos caíram para cerca de 20% do que eram há dez anos, mas, ainda assim, Sérgio avalia que sejam um grande empecilho e defende que as próprias empresas abram linhas de financiamento aos condomínios.

BENEFÍCIOS

Estimativa divulgada pelo Grupo Hubert, pertencente ao vice-presidente de Administração Imobiliária e Condomínios do Secovi, Hubert Gebara, dá uma boa medida da expansão da individualização. A empresa contabiliza 15,5 mil pontos de medição individualizada de água entre os seus clientes em São Paulo, Grande São Paulo e região do ABCD, atingindo a 81 condomínios, processo que, segundo Gebara, tomou fôlego de cinco anos para cá. O dirigente prevê a instalação de mil novos pontos neste ano. Segundo ele, a água representa o segundo maior gasto em um condomínio, superado apenas pela mão de obra (esta fica em 40% do total). E conforme subam os custos, as pessoas se veem mais propensas a apoiar a individualização, observa.

Seus benefícios localizam-se sobre os pilares da justiça social e da economia. “Ela é medida de justiça social, pois cada um paga o que consome. Mas também traz uma economia concreta, já que a transparência na relação entre o custo e o consumo faz com que o condômino mude os hábitos”, comenta Sérgio Meira. Já o gerente comercial Assis Salomão diz que ele próprio é beneficiário da individualização. Morando sozinho, antes do processo gastava em torno de R$ 105,00 por mês com a conta da água, que passou a R$ 20,00. No Residencial Guignard, o sistema acabou desencadeando outras vantagens: “Todas as melhorias de nosso condomínio vieram graças à economia propiciada pela individualização”, afirma o síndico Maurício Jovino.

GÁS

Em relação ao gás, além da economia e da justiça, entra também o quesito segurança. Um antigo decreto municipal de São Paulo (12.706/76) obriga as edificações servidas por gás natural canalizado a eliminarem os botijões de GLP. A mais recente estimativa divulgada pela Secretaria de Saneamento e Energia do Estado aponta quase 800 mil domicílios residenciais servidos pela rede. Por outro lado, os decretos municipais de 24.714/87, 27.011/88 e 32.329/92 determinam e regulamentam a disposição de gás combustível em área comum dos condomínios em São Paulo, externas às edificações, atingindo tanto as novas construções quanto as que passarem por reformas. Assim, hoje, “mesmo que não haja gás de rua, os condomínios estão optando pelos cilindros, instalando-os no térreo e com medidores individualizados”, afirma Hubert Gebara. No Residencial Guignard, a própria Convenção interna proíbe o uso de botijões nas unidades, destaca o síndico Maurício Jovino. O condomínio é abastecido pelo sistema P 90, em cilindros maiores, armazenados em local próprio, conforme as especificações legais. A individualização da leitura foi contratada na mesma época da adoção do sistema da água, segundo Jovino, o que gerou uma economia imediata de 30% no consumo. “Instalamos os relógios em um abrigo lateral aos prédios e cada morador passou a receber a sua conta”, explica.

No Living Club Refuge, a administração encontrou outra forma de apurar os gastos individuais com o gás, sem ter que instalar os medidores. Conforme relata o síndico Waldir Berger, 95% do consumo acontece nas caldeiras do sistema de aquecimento central, “que funciona 24 horas por dia para garantir água quente nos chuveiros a qualquer momento”. Portanto, a partir da leitura da vazão da água quent e nos medidores de cada unidade, é possível apurar quanto cada uma consumiu de gás, conta que é feita mensalmente pelo próprio síndico. Segundo ele, o artifício dispensou o condomínio da necessidade dos medidores individualizados.


Matéria publicada na edição 150 set/10 da Revista Direcional Condomínios

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