Empresas que vendem água por meio de caminhões-pipa em São Paulo relataram mudança no perfil de seus consumidores nas últimas duas semanas. Acostumadas a atender obras e indústrias, as companhias passaram a realizar o abastecimento também em condomínios e residências.
Proprietário de uma fornecedora na Zona Oeste, Valmir Arnod conta que ficou impressionado com o crescimento dos pedidos. “Houve falta d’água para a gente mesmo. Houve uma demanda imensa, então, não aguentamos. Nessas últimas semanas tivemos até 70% mais pedidos”, disse. “Trabalho com isso há 14 anos e nunca vi nada assim. Na semana passada teve procura muito grande por residência e condomínio. Como a gente trabalha mais com empresas, foi difícil atender a esse público e ao nosso comum”, diz.
Apesar de ajudar nos negócios, Arnod diz esperar que chova em breve. “Estou torcendo demais para que chova, porque é preocupante. Peguei pessoas ligando desesperadas. Os caminhões são volume grande, não tem como encher caixa d’água de residência. Não é esse o nosso serviço, afirma.
Na empresa Água Leste, na Zona Leste da capital, a mudança foi mais enfática após as temperaturas se elevarem nos últimos dias. Na sexta-feira (17) os termômetros chegaram a marcar 37,8°C, atingindo recorde histórico de calor. Funcionários ouvidos pelo G1 informam que o armazenamento é o principal foco dos solicitantes.
Os caminhões, que antes abasteciam indústrias e obras, passaram a ser enviados para residências para encher piscinas.
Gerente da companhia Flash Água, Alessandra Rodrigues diz que se impressionou com o aumento na demanda em bairros da Zona Norte, como Casa Verde, e em pontos do Centro de São Paulo. “É condomínio, é casa, todo mundo está desesperado. A gente que está trabalhando com água vê o quanto está difícil mesmo a situação. Há duas semanas o telefone não para de tocar”, diz.
Ela conta que já chegou a encerrar o expediente mais cedo por faltar água para os abastecimentos. “Até pra gente está começando a faltar. Precisamos esperar para reabastecer os caminhões. As entregas estão programadas, mas dependendo do horário não conseguimos fazer porque a água acabou, até me assustei”.
Tiago da Silva, da empresa Cristal Águas, diz que o aumento foi de aproximadamente 30%. “No começo, era principalmente no Centro, em Perdizes e Pinheiros. Agora está mais geral, não tem uma região específica. Todo mundo está procurando”, afirma.
De acordo com Silva, por conta do aumento nos pedidos, os interessados precisam solicitar o caminhão com ao menos um dia de antecedência. “Pedimos para, se possível, ligar um dia antes. Se for para, por exemplo, daqui a duas horas, pode não ter. Vai depender da disponibilidade”, explica.
O orçamento pode ser feito por meio do telefone. Na maioria das companhias, os valores variam de acordo com a região. Quanto mais longe da empresa for o local, mais alto será o valor. No entanto, algumas cobram de acordo com a capacidade dos caminhões. Um veículo que carrega até 15 mil litros varia entre R$ 450 e R$ 500.
Prejuízo
Em uma das filiais da empresa Globo D’água, na Mooca, Zona Leste, o aumento na procura não irá colaborar tanto com as vendas. Segundo Murilo Araújo, um dos funcionários do local, o poço que a companhia utilizava para abastecer seus caminhões secou e o atendimento precisou ser reduzido.
“Não tem água para carregar. Não choveu, então, não temos. Já perdemos clientes, inclusive por conta disso. Estamos recomendando outras empresas ou pedindo para que eles aguardem o abastecimento da Sabesp mesmo”, conta.
De acordo com ele, o problema tem ocorrido há pelo menos 20 dias e afeta os negócios. “Nós fazíamos ao menos duas viagens por dia, agora não estamos conseguindo fazer nem isso. Não compensa”, afirma Araújo.
