Como os condomínios podem proteger estruturas de concreto aparente

“Elementos estruturais revestidos com emboço, reboco, placas cerâmicas etc. acabam por ter uma barreira física que impede a entrada de agentes agressivos no interior da estrutura. Este não é o caso de elementos estruturais aparentes ou apenas pintados. Esses não têm qualquer barreira e, portanto, precisam de maior atenção nas atividades de manutenção, para que a estrutura atinja a vida útil de projeto esperada.”

1 – Introdução

Existe uma ideia equivocada de que as peças de concreto têm uma longevidade praticamente eterna. Isso pode até se concretizar em algumas condições específicas, ou em peças de concreto sem barras de aço. O grande calcanhar de Aquiles das estruturas de concreto armado são as barras de aço embutidas nelas. O aço, como a maioria das pessoas sabe, sofre processo de corrosão (conhecido como enferrujamento), principalmente em regiões úmidas e com presença de sais suspensos no ar (como nas regiões litorâneas), fenômeno conhecido como maresia, que basicamente significa que diminui sua resistência mecânica e, portanto, traz risco à estabilidade da estrutura.

Elementos estruturais revestidos com emboço, reboco, placas cerâmicas etc. acabam por ter uma barreira física que impede a entrada de agentes agressivos no interior da estrutura. Este não é o caso de elementos estruturais aparentes ou apenas pintados. Eles não têm qualquer barreira e, portanto, precisam de maior atenção nas atividades de manutenção, para que a estrutura atinja a vida útil de projeto esperada.

2 – Meios de proteção de estruturas de concreto aparente

Resumidamente, pode-se separar os protetores de superfície de concreto em: impregnantes (bloqueadores de poros e hidrofugantes de superfície) e formadores de película (esses constituídos pelas pinturas e vernizes). Os bloqueadores de poros, por sua vez, são constituídos por compostos de silicatos e, os hidrofugantes de superfície, por compostos hidro-repelentes. Todos os tipos de proteção possuem vantagens e desvantagens, devendo um profissional habilitado defini-los de acordo com análise prévia.

Os formadores de película possuem maior resistência à penetração da água, até mesmo sob pressão, porém, por ficarem sobre a superfície do concreto, estão mais expostos aos agentes de deterioração, como os raios UV, ações mecânicas, físico-químicas etc. Por isso, eles apresentam uma vida útil inferior, requerendo ações de manutenção mais frequentes. Também, não são tão eficientes em casos de fissuração, pois a película também fissurará.

Os hidrofugantes de superfície atuais do mercado possuem formulação com base silano, siloxano ou resina de silicone. Eles não são muito resistentes à água sob pressão, sendo indicados apenas para superfícies verticais ou inclinadas, sujeitas à umidade por capilaridade. Por penetrarem nos poros do concreto/materiais, têm maior ou menor eficiência em função da porosidade da superfície. Possuem durabilidade mais elevada que os de película, pois mesmo sendo sofrendo deterioração superficial, mantêm sua ação hidro-repelente nas camadas mais internas, protegidas da ação do UV, durando mais tempo (cerca de dez anos).

Os bloqueadores de poros são produtos compostos por silicatos, que penetram nos poros superficiais e reagem com o hidróxido de cálcio [Ca (OH)2], formando um produto semelhante ao C-S-H, diminuindo a permeabilidade do concreto, sem alterar significativamente sua aparência.

Atualmente já existem soluções que combinam impregnantes com formadores de película, tendo base de silano/siloxano como primer e metilmetacrilato como verniz de acabamento e proteção, conciliando as vantagens de ambos, porém, elas podem comprometer a estética do elemento.

3 – Manutenção

As atividades de manutenção de estruturas de concreto armado aparente devem estar associadas à realização de inspeção a cada um ano, segundo a ABNT NBR 5.674 (2012), para identificação de anomalias como fissuras, deformações, delaminações, recalque, pontos com corrosão etc. E estas manifestações devem ser tratadas caso a caso. Preventivamente, devem ser aplicados os protetores de superfície a cada três anos (vernizes e pinturas) e cinco anos (hidrofugantes), ou conforme recomendação dos fabricantes.

Para estruturas de concreto não aparente, as ações preventivas de manutenção devem ser feitas sobre os revestimentos que o envolvem.

4 – Conclusão

O assunto é de extrema relevância para as atividades de manutenção de edificações, apresentando soluções para aumento da vida útil das estruturas de concreto, assim como para corroborar ações de reparos de estruturas deterioradas. Nesse sentido, os gestores prediais devem programar de maneira consciente as corretas ações de manutenção em estrutura de concreto aparente, sendo que a melhor solução de proteção do concreto deve ser definida por profissional especializado.

Referências

  • ABNT NBR 5674: Manutenção de edificações — Requisitos para o sistema de gestão de manutenção. Rio de Janeiro, 2012.
  • MEDEIROS, Marcelo H. F.; GOMES, Thaís S.; HELENE, Paulo. Hidrofugantes de superfície: Estudo da capacidade de barrar o ingresso de água no concreto. 2006. In: Teoria e prática na engenharia civil, n. 8, p 21-28. São Paulo, 2006.
  • MEDEIROS, M.H.F.; HELENE, Paulo. Durabilidade e proteção do concreto armado. Revista Techne n 150, 2009

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Autor

  • Marcus Vinícius Fernandes Grossi

    Engenheiro Civil, é doutorando em tecnologia da construção pela USP; mestre em Tecnologia da Construção de Habitações pelo IPT; especialista em Excelência Construtiva e Anomalias pelo Mackenzie; em Gestão e Tecnologia da Construção pela POLI-USP; Inspetor de Estruturas de Concreto pelo IBRACON, ABECE e ALCONPAT. Atua como Perito Judicial, Assistente Técnico da Defensoria Pública e Ministério Público do Estado de São Paulo; professor universitário; palestrante de cursos de perícia e patologia das construções. É sócio-gerente da Fernandes & Grossi Consultoria e Perícias de Engenharia, onde atua com consultoria, perícias de engenharia, inspeção predial, entrega de obras, auditoria de projetos, normatização técnica, desempenho e qualidade das construções. Atualmente é membro da Divisão Técnica de Patologia das Construções do Instituto de Engenharia e associado da ALCONPAT - Associação Brasileira de Patologia das Construções. Lançou a obra “Inspeção e Recebimento de Obras/Edificações Habitacionais” (LEUD Editora, 2020).

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