Como abordar a presença de drogas nos condomínios

“É de suma importância realizar um trabalho de treinamento especializado junto aos seguranças do condomínio, transmitindo a esses profissionais noções e conhecimentos práticos e teóricos sobre dependência química.”

Quando vamos abordar a presença das drogas nos condomínios, antes de tudo, cabe fazer uma definição do que é “Dependência Química”. Esta é uma doença que não tem cura; é tratável e preventiva, desta maneira a sociedade (condomínios inclusos) precisa desenvolver mecanismos que consigam impedir suas manifestações. Muitas pessoas a desconhecem como doença, acreditando que um simples tratamento resolve o problema da pessoa. Não só, é preciso preparo e muitas ações coordenadas para enfrentar o problema.

As drogas mais usadas são o álcool, a maconha, haxixe, ecstasy e crack. O álcool e a maconha dividem o primeiro lugar como as drogas iniciantes, que levam uma pessoa a desenvolver a dependência química para as mais fortes, como as citadas anteriormente.

Origens do vício

É importante ressaltar que o consumo de álcool está em crescimento junto às mulheres, tanto adolescentes quanto adultas. E o consumo em geral está se iniciando cada vez mais cedo, ainda na infância (a partir de 9, 10 anos de idade).

Outro ponto comum está no fato de os pais permitirem que os filhos experimentem alguma substância alcoólica ainda na infância, mas é de seu total desconhecimento que há indivíduos que já nascem com predisposição a desenvolver algum tipo de vício. Ao experimentarem o álcool ou a droga, a situação poderá despertar-lhes um fenômeno que chamamos de “adicção”.

Infelizmente, é muito comum, seja na escola ou no próprio condomínio, que os pais transfiram a responsabilidade pelo consumo dos filhos aos profissionais que trabalham nestes ambientes, redimindo-se da contribuição que tiveram para o início da adicção. É importante enfatizar que os adolescentes não bebem para saborear a bebida, mas sim, “travarem”, ou seja, para ficarem bêbados, repetindo o que os amigos fazem. Bebem para fazer parte de um grupo.

Podemos observar com frequência que muitos exemplos vêm do próprio ambiente familiar, onde é muito comum que os pais (pai e/ou mãe) apresentem histórico de alcoolismo. Observa-se também que muitos pais têm como hábito passar em um bar ou padaria para tomar uma cerveja antes de ir para casa, uma pinga antes das refeições, ou simplesmente bebem diariamente com frequência.

Isto quer dizer que existe uma carga tanto genética como comportamental para o vício; de um lado, as pessoas já nascem com certa predisposição a ele; de outro ponto, é inevitável que copiem as atitudes dos familiares desde sua formação, nos primeiros anos de vida. Nos casos de consumos frequentes ou reiterados pelos pais, a possibilidade de os filhos desenvolverem a adicção é muito alta por copiarem as mesmas atitudes.

Medidas preventivas

Diante disso, dentro de um condomínio residencial, os síndicos podem e devem trabalhar alguns pontos importantes, como medida preventiva e de abordagem do problema. Por exemplo:

  • Como abordar uma pessoa que esteja consumindo drogas?

É importante que o segurança ou funcionário do prédio seja amigo do jovem, o que poderá facilitar uma tentativa de orientá-lo a não repetir este comportamento, não só por estar em um ambiente residencial, bem como pelo mal que está ocasionando a ele mesmo.

  • Treinando e preparando os profissionais

Para isso é de suma importância realizar um trabalho de treinamento especializado junto aos seguranças do condomínio, transmitindo a esses profissionais noções e conhecimentos práticos e teóricos sobre dependência química. Outro ponto de suma importância é ponto é transmitir a esses profissionais informações sobre os malefícios ocasionados pela dependência química. Por exemplo, alterações de humor muitas vezes bruscas e violentas. Quando houver situações como essas, os seguranças devem buscar uma forma de negociação que fique boa para ambos os lados (visar limites).

  • A comunicação aos pais

A partir deste ponto, é preciso comunicar os pais os fatos ocorridos, apontando os pontos que geraram a situação, esperando atitudes dos pais que visem a diminuir ou cessar estes problemas.
Um trabalho de conscientização de valores também faz parte das medidas preventivas, pois a conduta do vício diminui o senso crítico do usuário em qualquer faixa etária.  É comum que o usuário não reconheça seu vício e, um aspecto importante a se destacar, é implantar o diálogo na família, conhecer os amigos dos filhos.

  • O papel do vizinho

Na situação de um morador que perceba uma pessoa consumindo drogas, ele deve procurar o síndico, para que este tome as medidas necessárias. Ou seja, converse com os pais e, em alguns dos casos, chame um profissional (psicólogo) para fazer uma abordagem com a família.

É importante compreender que o síndico pode implantar um trabalho psicológico dentro do condomínio. E, dependendo da gravidade do problema, encaminhar alguns casos até mesmo para tratamento psicológico e psiquiátrico, e em casos mais drásticos, para uma internação.
(Acompanhe uma entrevista do autor sobre o assunto, no link http://www.youtube.com/watch?v=Q9StuyTJZ1M&feature=youtu.be).

São Paulo, 1º de abril de 2014.

Autor

  • Nelson Luiz Raspes

    Psicólogo com formação em Dependência Química pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). É especializado em Capacitação em Dependência Química pela Universidade de Santa Catarina. Atuou durante quinze anos junto ao Centro de Tratamento Bezerra de Menezes.

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