Como a área de lazer do Condomínio Grand Parc desabou?

Especialistas creem que centenas de cabos de aço se partiram

O intrigante colapso repentino da área de lazer do Grand Parc Residencial Resort, na semana passada, em Vitória (ES), levanta perguntas sobre como e o porquê de a laje construída para suportar toneladas estranhamente não resistiu.

A trágica ruptura do pavimento na madrugada da última terça-feira tem características tão peculiares que vão ajudar investigadores a desvendarem esse mistério e a encontrarem os responsáveis pelo desastre que matou o porteiro Dejair das Neves, feriu quatro pessoas, entre elas o síndico, e deixou cerca de 160 famílias sem casa por prazo indeterminado.

Especialistas ouvidos por A Gazeta são categóricos ao afirmar que o tipo de queda, como aconteceu no condomínio da Cyrela e da Incortel, é chamado de ruptura por punção, quando a laje é perfurada pelos pilares. Na visão deles, os aspectos do acidente levam a crer que tudo veio abaixo porque centenas de cabos de aço, chamados de cordoalhas, se partiram. Agora, cabe à Polícia Civil dizer os motivos das falhas que levaram à ruptura.

Segundo integrantes do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea), que acompanham o caso, erros no projeto estrutural, construção inadequada, problemas nos materiais empregados na obra ou mesmo intervenções indevidas no empreendimento podem ter causado efeitos catastróficos na estrutura.

Laje protendida

O sistema de laje usado no residencial não conta com vigas. É chamado de laje protendida. O nome está atrelado ao fato de os cabos serem esticados quando já estão dentro do concreto. É aplicada uma força de 15 toneladas, por meio de um macaco hidráulico, para que os fios de aço fiquem esticados ao máximo. Essas “cordas”, aliás, são colocadas com a finalidade de dar estabilidade, de enganar as “leis da física” e de evitar que a pressão natural exercida pelas colunas danifique a construção.

Para engenheiros, a situação como a do Grand Parc é extremamente rara e deve, inclusive, trazer os modelos construtivos para o centro de um debate a fim de se estabelecer critérios que possam impedir que destruições como essas voltem a se repetir.

No Estado do Espírito Santo, as lajes protendidas são usadas há mais de 15 anos e se tornaram o estilo preferido das construtoras por agilizarem o tempo de obra e serem ainda mais baratas. Praticamente todas as construções usam esse modelo, o que fez o Espírito Santo se tornar o maior consumidor de cordoalhas do País, explica o coordenador do curso de Engenharia Civil da Multivix, Daniel Vivas.

“A grande vantagem da laje protendida é que você consegue dar um bom espaçamento entre os pilares. Mas essa estrutura deve ser feita dentro das normas brasileiras para que 100% dos esforços de punção sejam combatidos. Para áreas de lazer, por exemplo, deve ter espessura maior do que se fosse de um pavimento de garagem”, afirma Vivas, ao acrescentar ainda que nunca ouviu falar de lajes tão grandes como a do Grand Parc caídas por completo. “Sempre fica uma parte da laje intacta. Ali, aparentemente, as cordoalhas se romperam de uma só vez”.

O doutor em Engenharia Civil e professor da UFES (Universidade Federal do Espírito Santo), Rodrigo Silveira Camargo, explica que as lajes protendidas são projetadas para dar sinais de que vão ruir. “Mesmo que tenha se passado algumas horas entre a percepção dos primeiros estalos e o desabamento, a ruptura foi súbita, algo muito incomum. Porque essas estruturas são projetadas para dar sinais de que vão desabar. Primeiro aparecem fissuras, que vão crescendo ao longo do tempo. Geralmente, demoram dias ou mesmo semanas antes de colapsar”.

Fonte: Mikaella Campos / Rede Gazeta (Vitória)

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