Instalações elétricas: seu condomínio está seguro? Parte 2: Proteção contra choques

“O choque, que é a passagem da corrente elétrica pelo corpo humano, pode ser fatal mesmo em pequenas descargas.”

No artigo anterior, dando sequência aos requisitos de proteção de uma instalação elétrica nas edificações, discorremos sobre as proteções contra sobrecargas e curtos-circuitos, que podem ser realizadas pelo disjuntor ou por fusíveis, e que devem ser coordenadas em uma série de definições.

Neste artigo, vou começar a falar um pouco da proteção contra choques elétricos, um dos maiores problemas que temos verificado e que é responsável pela morte de mais de 1.500 pessoas anualmente (valor estimado pela Abracopel).

O choque elétrico acontece em duas situações: a primeira é quando tocamos acidentalmente uma parte viva (energizada) e nos encontramos em outro potencial. Neste caso, chamamos de contato direto. A segunda situação é quando tocamos uma peça metálica que supostamente não estaria energizada, mas que por uma falha acabou ficando nesta condição. Neste caso, o choque é conhecido por choque por contato indireto.

Em ambos os casos, o choque, que é a passagem da corrente elétrica pelo corpo humano, poderá ser fatal mesmo em pequenas descargas. Nossas normas técnicas estabelecem, por exemplo, que tensões acima de 50 volts em locais secos, 24 volts em locais úmidos, e 12 volts em locais imersos, podem tornar um choque elétrico fatal.

“Radiografia” do choque elétrico

Vamos observar a nossa instalação, seja ela em áreas comuns ou mesmo em nossa residência: o valor mínimo de tensão nas tomadas é de 110 volts, e em alguns casos, 220 volts. É comum as pessoas pensarem que o choque em 110 volts não leva a óbito, mas isto não é verdade, pois a intensidade da corrente depende da tensão e da resistência. No choque elétrico, o corpo humano é quem determina esta resistência e, assim, a corrente elétrica que passará por ele. Vamos a um exemplo: imaginemos que um ser humano mediano possua resistência elétrica de 3 quilo ohms, entre duas extremidades quaisquer, pé e mão, por exemplo (veja ilustração na figura 1). Pela lei de Ohm, corrente é o resultado da divisão da tensão pela resistência. Se aplicarmos 110 volts nestes 3 K ohms, teremos uma corrente circulando pelo corpo no valor de 36,7 Miliamperes.

Se observarmos a tabela abaixo, que versa sobre os efeitos da passagem da corrente no corpo humano, veremos que a partir de 10 miliamperes passando pelo coração, o choque elétrico poderá causar uma parada cardíaca e levar a óbito.

Fonte: Duran, J.E.R. Biofísica – Fundamentos e aplicações. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2003. Pág. 178 (adaptado)

O ser humano, em cada situação do dia, tem uma resistência diferente que vai de poucos ohms até vários milhares. Esta condição fará toda a diferença em um choque elétrico. É a decisão entre ficar vivo e morrer. Portanto, não se iluda. Se você foi vítima de choque elétrico e está vivo, não significa que o choque não pode matar, significa que naquela condição que você estava não causou lesão suficiente para você ser uma vítima fatal.

Como prevenir riscos?

O risco do choque elétrico pode ser minimizado de três formas:

  • a) O impedimento do acesso às partes vivas, o que é realizado por isolamento, barreiras e invólucros isolantes;
  • b) A redução da diferença de potencial através da equipotencialização de todas as partes metálicas e não energizadas. Esta situação pode ser atingida com um sistema de aterramento eficaz;
  • c) Pelo seccionamento automático da energia, que pode ser conseguido com o uso de dispositivo apropriado conhecido como DR – Diferencial Residual.

Estes e outros requisitos, que são parte de uma instalação elétrica segura, serão tratados nos próximos artigos, então até lá!

São Paulo, 23 de abril de 2014.

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Autor

  • Edson Martinho

    Engenheiro Eletricista, é diretor-executivo da Abracopel (Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade). Escreveu e publicou o livro "Distúrbios da Energia Elétrica" (Editora Érica, 2009).

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